Andei me perdendo de mim... Será que podes me ajudar a achar? Aquela pessoa sorridente Em paz e de bem com a vida...
Procuro-me e não me encontro mais. Nos gestos simples e nas meigas palavras... Já indaguei na rua até com os pardais Por onde será que ando, pois, Já não me encontro mais.
...Anjo Negro...
ÍNPETO DA LOUCURA
Sem início, sem final Propício de uma luta desigual Sereno amanhã, normal Refúgio incerto, surreal
Eterno, minutos e horas Esquemas de uma diretriz Não sinto o tempo, por fora Lágrimas frias, despejo que fiz
Viúva que chora gotas e sofrimento Ferindo sua dor, reprime palavras Supriu seu mistério, dor e sentimento A morte chegara, sem travas
A porta, caminho atravesso Dias ultrapassam o mistério O dia não decide quem volta Pego a chave, tranco-me por fora
Nessa hora, instinto que explora Um mármore de dor, conforta Saudade, enigma da verdade Os dias, ultrapassados detalhes
Era noite e o vento soprava Não havia mais convívio e saudade Desejo sofrido, falando a verdade Aprisionado hospício, suplicando liberdade...
Will Ackles
Imagem: Christian Schloe
Tratado geral das grandezas do ínfimo
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios.
Manoel de Barros
Imagem: Zev Hoover
Um Beijo
Foste o beijo melhor da minha vida, ou talvez o pior... Glória e tormento, contigo à luz subi do firmamento, contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida: queimas-me o sangue, enches-me o pensamento, e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo, batismo e extrema-unção, naquele instante por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto, beijo divino! e anseio delirante, na perpétua saudade de um minuto...
Olavo Bilac Imagem: Vsevolod Maksimovich
Dentro em mim...
Achei! Vasculhei cada canto... Revirei cada recanto de minh'alma. Não sosseguei enquanto não me encontrei.
Lancei-me de montanhas de incertezas. Visitei buracos pelas redondezas. Não me conformei que aquele em mim Houvesse se perdido enfim.
Preguei cartazes de busca Convoquei legiões de coragem. Estive confuso, perdido e desorientado. Pelo BEM então fui visitado.
Meus olhos finalmente viram Meu coração a pouco partiram. Surge um novo horizonte. Vem comigo desfrutar desta fonte!
CARPE DIEM www.leebr2015.jimdo.com Portfólio Carpe Diem Imagem: Rubem Alves Oficial Facebook
TUDO O QUE SEI...
Tudo o que imaginei saber da vida cabe num livro. Tudo o que realmente sei cabe numa página. Tudo o que sonhei conquistar cabe numa linha. Tudo o que recebi do mundo ainda não encontrei Lugar imenso o bastante para comportar.
Carpe Diem. Viva a sua vida da melhor maneira possível. Você tem tudo o que precisa para construir sua felicidade.
Sou eu que vou seguir você Do primeiro rabisco Até o be-a-bá. Em todos os desenhos Coloridos vou estar A casa, a montanha Duas nuvens no céu E um sol a sorrir no papel...
Sou eu que vou ser seu colega Seus problemas ajudar a resolver E acompanhar nas provas Bimestrais, você vai ver Serei, de você, confidente fiel Se seu pranto molhar meu papel...
Sou eu que vou ser seu amigo Vou lhe dar abrigo Se você quiser Quando surgirem Seus primeiros raios de mulher A vida se abrirá Num feroz carrossel E você vai rasgar meu papel
O que está escrito em mim Comigo ficará guardado Se lhe dá prazer A vida segue sempre em frente O que se há de fazer Só peço, a você Um favor, se puder Não me esqueça Num canto qualquer
Eu não sei se você se recorda do seu primeiro caderno Eu me recordo do meu Com ele eu aprendi muita coisa Foi nele que descobri que a experiência dos erros, Ela é tão importante quanto à experiência dos acertos
O que está escrito em mim Comigo ficará guardado Se lhe dá prazer A vida segue sempre em frente O que se há de fazer Só peço, a você Um favor, se puder Não me esqueça Num canto qualquer
O CADERNO - Pe. Fábio de Melo
DESFRUTAR...
A palavra de ordem hoje é
Desfrutar!
Aproveitar o momento!
Gozar a vida!
Buscar teus fundamentos.
O que te motiva!
O que te faz viva (o).
Achar-se pleno nos pequenos detalhes.
Um novo dia pede novas atitudes.
O olhar traduz e revela toda a luz que nele se encerra, que lá habita em cores ora de felicidade... ora de saudade... Rompendo em brilho o contorno de uma tela onde o amor, o desejo e a esperança pincela.
Num simples olhar uma vida se passa... e com ela, toda vontade de viver, todo desejo de amar... todos os sonhos. É no seu brilho que muitos corações se encontram... Sensações se enlaçam, caminhos se estendem... se mostram... se revelam... ou se distanciam... E, às vezes, se vão para sempre!
Os sentimentos... mesmo que de um instante, circunda num olhar brilhante... e Dar asas à imaginação torna-se um atributo perfeito para satisfazer um mero e ardente desejo que se estampa, pela singela vontade de de amar... transfigurando-se no possível ato de sonhar... e sonhar!
AROMA DE ORVALHO Imagem: Internet
NO HORIZONTE DE UM OLHAR... Ele é todo assim... Imponente, alegre... romântico Um encanto! Às vezes nos desencontramos Nas desventuradas artimanhas que o mundo impõe. Mas assim é a vida. Misteriosa, querida... Por vezes, desafiadora. Seja doce ou insaciável... Por todos é desejável... Apetecida! Nesse elo de transições, Entre os momentos vividos, Nossa condição humana Nos mostra o quanto somos incompletos, imperfeitos... Incompreendidos... sedentos Por receio, nos tornamos enfraquecidos E o desconhecido tememos. Nos refugiamos... e Emocionalmente, nos desarmamos. Mas, desistir de seguir em frente, Deixar de encontrar o final do túnel Ou de conhecer o que adiante está, na contorno da ladeira?... Não! Por que desistir? Não sabemos o que está por vir! E esse depois, pode ser lindo! Havemos de acreditar nisso para nos transformar. A esperança é como o sonho, Nunca deve acabar! É lá que o porvir está. E até pode vir com o pôr do Sol Daqueles que nos revigora com a sua luz... Conduzindo novos tempos Novos versos... que só o amor traduz. Ah! Esplendoroso renascer!! Que um dia se fez em majestosa poesia! Que o seu silêncio Ecoe em gloriosa alegria e em desmedido prazer... Ressoando e entoando a vontade de viver fazendo feliz quem assim quiser ser. Que aquele ser encantado Imponente, alegre e romântico... Seja despertado, E pela felicidade... encontrado. Felicidade esta que pode estar ao seu lado. Ou no horizonte de um olhar No canto de um canto... Sempre a esperar.
AROMA DE ORVALHO Imagem: Internet
FLY
Olho adiante! Nada mais é como antes. Ganhei asas. Plaino agora sobre as casas. Conquistei as alturas. Enxergo lá embaixo apenas as figuras.
As palavras libertam. Abra sua mente, vem com a gente.
Naveguei por milhas e milhas neste mar virtual.
Não encontrei as palavras certas
para definir você;
fazer jus ao teu ser,
tocar seu coração.
Então saí da net; não está aqui seu presente.
Caminhei pelos bosques, praças e jardins,
Colhi lindas flores,
Que se mostraram comuns, repetidas e nada originais.
Marcharam dando provas de uma fragilidade que não é sua.
Assim pensei, não é este um bom presente para alguém tão forte.
Chegou à noite e me encantei com tantas opções de bons presentes. Vi um céu reluzindo inúmeras belezas e enchi meus olhos de estrelas, de luz e de lua.
Aí sim, achei algo à sua altura, algo à sua medida...
Mas não consegui te trazer nada além do endereço.
-Olhe para cima, contemple o que é seu por direito!
Assim, me apresento de mãos vazias e coração cheio, para te dizer um velho e desgastado PARABÉNS, pois percebi que quando ele é sincero e cultivado em nossos corações não há presente melhor e nem
mais importante.
-Parabéns, e que Deus te abençoe cada dia de sua vida pondo nela sempre alguém a lhe dizer as palavras certas, as flores mais lindas e perfumadas e a luz das estrelas, do sol e da lua.
Luiz Antônio Valores
Herança
Meu avô me deixou de herança,
um livro incrível e fenomenal.
Algo precioso e incomum para uma criança,
que nada entende do reino animal.
Eu esbaforido tomei de posse,
de uma divinal enciclopédia sobre insetos.
Encantado eu admirei a metamorfose
da mais bela borboleta e virei adepto.
Inocente eu cultivei aquele hábito.
Ainda hoje guardo insetos para os admirar.
...Anjo Negro...
Imagem: Vladimir Kush
NO OUTRO LADO DA MARGEM...
E novamente eu me afoguei.
E de novo, e outra vez.
Não adianta!
Eu simplesmente não conseguia desistir.
Sentia até prazer ao me iludir!
Queria a qualquer custo aprender a nadar.
Observava os meninos pulando da pedra e sofria.
E a molecada ria!
Lá adiante!
No lado oposto da margem,
a areia branca me convidava,
a me sentar nela e desistir daquela emboscada.
A multidão me provocava.
Duas direções,
e uma opção.
Qual você escolheria então?
LEMBRETE – 2015 09 17
Escrevo poesia como quem corta cebolas,
Como quem faz juras verdadeiras de amor.
Escrevo poesia como os condenados ao cárcere,
Como homens aguardando no corredor da morte.
Escrevo poesia como se eu não tivesse nada melhor para fazer com o tempo que me resta na vida e escrevo assim porque assim é.
Escrevo poesia como se não tivesse alternativa,
Como se fosse ela quem escrevesse a mim, até.
Escrevo poesia como se nenhum alto-falante fosse alto o suficiente para projetar a minha voz no tempo e no espaço.
Escrevo poesia para ser mais eterno do que a voz, que o eco e que o papel.
Escrevo poesia para que todos saibam que eu sou LIVRE
E também para que eu jamais me esqueça disso!
É por isso que escrevo poesia!
Rodrigo Ricardo
Poesias Escolhidas Editora
E eu nem percebia que aos poucos, O mundo se abria para mim Cada vez que eu folheava um livro. As páginas eram as caravelas, Que me levavam refém com meu consentimento. Como são prazerosos esses momentos! O livro e eu! E o mundo torna-se todo meu!
...Anjo Negro... Imagem: Vladimir Kush
Tabacaria
Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto, Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é (E se soubessem quem é, o que saberiam?), Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente, Para uma rua inacessível a todos os pensamentos, Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa, Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres, Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens, Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade. Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer, E não tivesse mais irmandade com as coisas Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada De dentro da minha cabeça, E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada. A aprendizagem que me deram, Desci dela pela janela das traseiras da casa, Fui até ao campo com grandes propósitos. Mas lá encontrei só ervas e árvores, E quando havia gente era igual à outra. Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos! Génio? Neste momento Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. Não, não creio em mim. Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas! Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo? Não, nem em mim... Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando? Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas - Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -, E quem sabe se realizáveis, Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente? O mundo é para quem nasce para o conquistar E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão. Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez. Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo, Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda, Ainda que não more nela; Serei sempre o que não nasceu para isso; Serei sempre só o que tinha qualidades; Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira, E ouviu a voz de Deus num poço tapado. Crer em mim? Não, nem em nada. Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo, E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha. Escravos cardíacos das estrelas, Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama; Mas acordámos e ele é opaco, Levantámo-nos e ele é alheio, Saímos de casa e ele é a terra inteira, Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena; Come chocolates! Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates. Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria. Come, pequena suja, come! Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes! Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho, Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei A caligrafia rápida destes versos, Pórtico partido para o Impossível. Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas, Nobre ao menos no gesto largo com que atiro A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas, E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas, Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva, Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta, Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida, Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua, Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais, Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -, Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire! Meu coração é um balde despejado. Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco A mim mesmo e não encontro nada. Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta. Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam, Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam, Vejo os cães que também existem, E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo, E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri, E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu. Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira, E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses (Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso); Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube, E o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, Estava pegada à cara. Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido. Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado. Deitei fora a máscara e dormi no vestiário Como um cão tolerado pela gerência Por ser inofensivo E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis, Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse, E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte, Calcando aos pés a consciência de estar existindo, Como um tapete em que um bêbado tropeça Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta. Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada E com o desconforto da alma mal-entendendo. Ele morrerá e eu morrerei. Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos. A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também. Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, E a língua em que foram escritos os versos. Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu. Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas, Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra, Sempre o impossível tão estúpido como o real, Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície, Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?), E a realidade plausível cai de repente em cima de mim. Semiergo-me enérgico, convencido, humano, E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos. Sigo o fumo como uma rota própria, E gozo, num momento sensitivo e competente, A libertação de todas as especulações E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira E continuo fumando. Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira Talvez fosse feliz.) Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?). Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica. (O dono da Tabacaria chegou à porta.) Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me. Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu.
Álvaro de Campos, in "Poemas" Heterónimo de Fernando Pessoa
(postado na íntegra com a ortografia oficial regente do autor, segundo o site O citador)
SAUDADES
Existe um tempo em nossas vidas,
Época muito preciosa e querida,
Onde os joelhos feridos,
É a dor mais insuportável que sentimos.
Um tempo em que nossas pernas são leves,
E nos leva para onde quisermos.
Aquele delicioso momento,
Onde não temos a menor noção do tempo,
E o dia parece enorme.
Do tamanho da nossa vontade de brincar.
Oh infância!
Por que você foi acabar!
Pelo Teu favor fui poupado! Não sou mais hoje oferenda do pecado! Nem minha história será contada entre pecadores! Sou liberto por Tuas dores! Símbolo marcado em Tua fraca materialidade. Sobrepujando Tua humanidade. Revelando Tua Divindade.
Hoje, Alcei vôos mais altos, Subirei além dos planaltos. Pois meu corpo não é um mapa marcado, Onde todos podem ter seus nomes cravados. Não sou nenhuma livro da vida. Tua salvação tem uma única saída. Jesus Cristo nosso mestre guia.
Estão confundindo-me com algum iluminado. Minha luz não vem do sol e nem de alguma estrela guia. Ela vem de ver o mundo e todas as suas hostes sombrias. Dona morte agora é minha guia, Tornou-se ela minha vigia. Sempre a espreita e esguia, Caçadora de noite e de dia.
Se por desventura ao inferno eu for, Farei a todos um imenso favor, Tornar-me-ei o maior traidor. E novamente Tu serás o meu primeiro eleito. E o diabo que se dê por satisfeito. Por novamente ter de mim o meu despeito... Ou o meu respeito.
Tudo dependerá dos feitos Das mãos deste pecador! Pois sei que, a cada alvor, Estarei eu dando o meu louvor, A vida de amor, Aos frutos com sabor, E por seu eu agora um verdadeiro filho do Senhor!
...Anjo Negro... imagem: Vladimir Kush
"Na escuridão... eles se entregam ao amor. Separados, os amantes não podiam nem viver nem morrer, pois eram a vida e a morte juntas. Eles viviam de ervas e raízes e
da carne de animais selvagens. Suas peles se esticavam pelos seus corpos magros, estavam pálidos e em farrapos. Mas olhavam um para o outro... e não sabiam que sofriam."
Robert Johnson em We: Understanding the Psychology of Romantic Love ("Nós: Entendemos a Psicologia do Amor Romântico") , sobre Tristão e Isolda, recontado por
Joseph Bedier
Imagem: Vladimir Kush
AINDA QUE MAL...
Ainda que mal pergunte, ainda que mal respondas; ainda que mal te entenda, ainda que mal repitas; ainda que mal insista, ainda que mal desculpes; ainda que mal me exprimas, ainda que mal me julgues; ainda que mal me mostre, ainda que mal me vejas; ainda que mal te encare, ainda que mal te furtes; ainda que mal te siga, ainda que mal te voltes; ainda que mal te ame, ainda que mal o saibas; ainda que mal te agarre, ainda que mal te mates; ainda assim te pergunto e me queimando em teu seio, me salvo e me dano: amor.
Carlos Drummond de Andrade imagem da internet
O QUE... SOU EU!
Nada além de uma sombra.
É isso o que eu sou.
Quando deito em meu leito,
É isto o que mais angustia meu peito.
Sou a marca de um passado.
Sou tudo o que fiz de errado.
Sou o suspiro dos amantes.
Sou a sombra de um diamante.
Sou a gota de suor do trabalhador.
Sou a hora do parto e da surda dor.
Sou tantas coisas abstratas...
Mesmo quando me sinto um nada.
O que eu sou importa mais que "quem!"
Quem é pronome cretino,
Que não sabe definir meu destino.
Na verdade, há de ser que ninguém sabe,
Nem eu!
...Anjo Negro...
Sou preto sim senhor! Em meu peito pulsa um coração rubro. Em meus ombros o suor bruto. Em minhas mãos tenho calos. Mas nunca fui nenhum vassalo. Tenho orgulho da minha cor. Ela não me impede de dar e receber amor.
...Anjo Negro...
I am black yes sir!
In my chest beats a heart red.
On my shoulders gross sweat.
In my hands have calluses.
But I was never any vassal.
I'm proud of my color.
It does not prevent me from giving and receiving love.
... Dark Angel ...
A glória do lápis e papel! Um encanto a surgir. Riscos, rabiscos e traços Dando forma virtuosa, Criando laços, Moldando a beleza, Em contornos de pura leveza.
...Anjo Negro...
MEU ELEMENTO
Ela se apegou a mim, Como numa cadeia genética. Nossos corpos se fundiram, ganhando uma nova composição. Ela mergulhou em meu mundo, Avassaladora feito um furação. Meu elemento, meu chão, Tudo nela faz menção de mim. Tudo em mim é partícula dela. Vejo-a como o vento que sopra. Como a água que bebo. Como o sol que desponta. Ela me dá vida, Ela me ensinou a amar! POESIA! Como é bom te criar!
...Anjo Negro...
SER HOMEM É...
Quando eu ainda era um garoto, Sem um fio de cabelo no peito, Já me considerava homem feito. Sentia-me o dono da razão. Marrento e cheio de opinião.
Nossa! Como o tempo muda a gente! Hoje me vejo mais humano, Humilde e incrivelmente decente. Digo incrível, Pois, achava isso impossível! Levando-se em conta, meu temperamento terrível!
Naquela época eu me via homem demais, Hoje em dia eu já nem sei mais! kkkk Ser homem não é nada do que imaginei. Eu pensava que faria minha própria lei. Julgava-me ser capaz de tudo, Capaz até de governar o mundo!
Ahh! Que ilusão! Não domino nem o que me vem a mão. Não controlo nem o que sai da boca, E certas coisas me levariam à forca. kkk Mas, eu sinto saudades desse play boy. Daquela confiança louca que se foi.
Eu era um menino ainda, Mas, já me sentia um homem! Hoje já sou um homem, Mas, não sei que tipo de homem me tornei!
...Anjo Negro...
O SUSSURRO DO VENTO
Ali estava eu! Contemplando o passado com olhos admirados. O ferro-velho tinha o ar pesado. A oxigenação tomando conta de tudo ao redor. No ar o cheiro de partículas de ferrugem. Os ventos traziam os sussurros de almas que ali
estiveram. Caminhando em meio ao ralo capim, Um arrepio involuntário se apoderou de mim. Ao longe o barulho de latão rangendo. Tudo ali estava morrendo. O cemitério de aço conhecia seu fraco. O ferro enferrujado perdia sua força. Caminhei nos trilhos sentindo o metal se
abrindo. Os ventos sopravam forte, Me diziam que eu não era bem vindo. Acreditei no que me disseram: Tudo o que é velho trás a presença dos que ali
estiveram. Olhei para trás novamente E me despedi daquele velho cenário deprimente.
...Anjo Negro...
SEDUTORA... VERSUS... SEDUTOR...
Ela não precisa, esforços para seduzir, nem o uso de força, para dominar!
Ele invade, não sabe desistir, antes das fortes mãos, lança o olhar!
Depois quê, provoca (ela simula descaso)
sabendo bem, quê será acompanhada!
Para a mais bela, lua ele é espreito ocaso,
penumbra secreta (ela quer ser amada)
Singela, desperta através de teu cheiro,
a força maior (ainda) esconde no teu frágil corpo
Ele é lobo (romântico) é sorrateiro,
fareja a libido,(seus segredos) sonhos de um louco!
Nenhum do dois, se entrega
ambos se atraem...
Ela convida e não nega,
entre abraços se contraem!
"Sedutora" o teu sim e apenas o inicio,
que antecede tuas intenções!
É, (o meu maior vicio)
é conquistar corações!
Igualdade, nos desejos,
dois (soberbos) vencedores..
Incontáveis beijos,
sem sentirem medo,
"Sedutores!"
Autor: lorisvaldolopes.blogspot.com.br
Há três dias vivo uma verdadeira lua-de-mel. Há três dias que ando com a cabeça no céu. A saudade aperta o peito de todo sujeito que ama. Comigo não foi diferente enfim! O vazio da minha cama foi demais pra mim. Fui atrás dela. Minha bela! 2.370km de distância e angustiada espera. Tudo para passar o Natal ao lado dela. E agora aqui estou rindo a toa, Vendo-a bancar minha patroa! Quer saber de uma coisa? Isso sim que é vida boa! kkkk Vou eternizar este momento. Farei deste Natal um grande acontecimento. Não posso mais viver longe dela. Está mais que na hora, Vou me casar com ela... se ela me der a honra! Estou inseguro! Ansioso e extremamente nervoso! Não consigo falar com ninguém a respeito. Já até comprei o anel. Fiz mil poemas e escrevi meus votos. Acho que na hora ficarei mudo...
(incompleto.)
...Anjo Negro...
ENQUANTO ELA DORME...
Homem amando é fogo! Que gostoso viver a vida neste eterno gozo! A gente fica bobo e nem percebe. Já me pego até fazendo prece. Que eu jamais esqueça desse momento. Desse amor que me moveu a pedi-la em casamento.
Enquanto ela dorme sossegada, Eu viro pensativo as madrugadas. Planejo o nosso futuro com cuidado. Os seis filhos que teremos juntos. rsrs A casinha de campo que sempre foi o sonho dela. O cachorrinho perdigueiro para brincar no terreiro.
Tantas coisas para pensar. Tantas noites para admirar minha bela a sonhar. E o coração bate com toda a firmeza, Eu amo essa mulher com certeza. Durma com os anjos meu amor!
...Anjo Negro... imagem da internet
AS FOLHAS MORTAS
(canção) Ives Montand
Oh! Eu quero que você lembre-se como Os dias eram felizes quando éramos amigos. Naqueles dias, a vida era bela, E o sol mais quente do que hoje. As folhas mortas coletadas com a pá Você vê, eu não me esqueci ... As folhas mortas coletadas com a pá, Lembranças e arrependimentos também E o vento do norte os carrega Na fria noite do esquecimento. Você vê, eu não me esqueci A música que você cantou para mim.
Esta é uma música que nós gostamos. Você, você me amava e eu te amava E nós vivíamos os dois juntos, Você que me amou, eu que te amei. Mas a vida separa aqueles que se amam, Lentamente, em silêncio E o mar apaga na areia Os passos dos amantes desunidos.
As folhas mortas coletadas com a pá, Lembranças e arrependimentos também Mas o meu amor silencioso e fiel Sempre sorri e agradece a vida. Eu te amei tanto, você estava tão bonita. Como você acha que eu vou esquecer? Naqueles dias, a vida era mais bonita E o sol mais quente do que hoje. Você era minha doce amiga Mas eu lamento que nada regressará E a música que você cantou, Sempre, sempre vou ouvir!
RETIREI DAS GAVETAS DA MESA, VELHOS PAPEIS, MENSAGENS ENVIADAS POR VOCÊ QUE SE TORNARAM OBSOLETAS,
AFASTEI TAMBÉM DAS MINHAS RECORDAÇÕES TRISTEZAS, SAUDADES, CENAS ANTIGAS, E TUDO O MAIS QUE NÃO MAIS ME INTERESSAVA,
ACRESCENTEI SUA INDIFERENÇAS, FIZ UMA GRANDE FOGUEIRA, ONDE FORAM DELETADOS SENTIMENTOS VENCIDOS...
Paulo Roberto Gonçalves
DEUS CRIANÇA
Eu quero um deus criança Que solte pipa, Suba em árvores e brinque com cata-ventos. Um deus com a beleza das nascentes límpidas, Imaculadas de honraria e glória.
Um deus que só amenidades minta, Que não se esvaísse nos céus E não nos culpasse tanto.
Quero um deus que chore com dor de dente, Um deus de carne e osso e que tudo sinta, E que compreenda Que só queremos ser felizes, Por mais que as cicatrizes nos façam descrer.
Quero mesmo é um deus criança que goste de dança Cante cantigas de roda, aprecie as de ninar E que ainda não saiba ler ou escrever. Um deus que desobedecesse a gravidade de si mesmo E se deixasse escorregar a esmo Pelas águas que fez nascer.
Quero um deus criança Que queira por demais o meu colo Assim como almejo O cintilar dos seus olhos.
NARA RÚBIA RIBEIRO
No livro "Não borboletarás"
Natal
Meu apelo neste Natal É que cada um de vocês meus amigos, Saibam valorizar o que lhes é primordial. Que seus olhos se compadeçam Dos humildes, daqueles que sofrem. Seja eles humanos ou animais. Que o espírito natalino movam seus corações, a um sentimento de irmandade. De companheirismo. Que vocês possam viver com amor, as palavras do mestre Jesus, em cada um dos 365 dias do ano vindouro.
São meus votos de Feliz Natal e um 2016 maravilhoso na vida de cada um de vocês! Um
abraço!
ESPECIAL DE NATAL
Quando eu era criança, Painho me perguntou: _Se Jesus voltasse hoje, você acha que Ele viria como?
Eu respondi: Com aquela bata, né, Painho?
Ele respondeu: Ele viria de calça jeans, camiseta branca e sandália.
Eu visualizei o jeito que ele se vestia!
Ele usava chinelo de couro do artesanato.
Foi assim que eu vi Jesus, com a barba companheira e o cabelo curto.
Eu olhava pra Painho e via Jesus.
Homem negro, simples e sorridente.
Foi a primeira vez que ele me ensinou sobre contextualidade.
Um dia, ele também me perguntou como eu achava que Jesus era e eu descrevi o padrão europeu. Ele me disse que Jesus nasceu num lugar onde as pessoas tinham traços fortes, pele escura e que Jesus
era um homem que andava debaixo do sol pregando e que ele não poderia ser branco como todo mundo desenhava. Ele me disse que Jesus era negro.
E mais uma vez eu olhei pra ele e vi Jesus.
Foi a primeira vez que ele me ensinou sobre circunstancialidade.
Num outro dia, preocupado comigo, ele me disse para evitar certas companhias, não porque elas eram ruins, mas porque as pessoas falavam coisas sobre elas que ele não queria que falassem sobre
mim. Eu perguntei como poderia evitá-las se a Bíblia diz que Jesus andava com os pobres, com os iletrados, com as adúlteras e com os leprosos?
Ele me olhou e não disse mais nada!
Foi a primeira vez que ele me ensinou sobre respeito.
Quando ele partiu, eu tinha uns 11 anos e eu nunca esqueci destas lições e eu nem sei se ele imaginava que isso teria um impacto tão grande sobre mim.
Ele não era perfeito, mas pra mim ele foi o maior homem que eu já tive o prazer de conhecer e no dia do aniversário de Jesus, eu não poderia não lembrar de Painho.
Um natal quentinho e farto pra todo mundo!
Gabriela Freitas
imagem da internet
ALGO QUE ME PERTENCE
Não obrigada. Vi um homem vendendo amor, uma moça querendo comprar Vender amor.
Vender algo que um dia já foi meu não compro, não faço empréstimo, não parcelo em 12x no cartão sem juros... Passo na vitrine, enamoro-me no reflexo do meu rosto, "Quer ajuda? Temos diversos tipos de amor." Queria mais uma garrafa do próprio, amor próprio Ouvi dizer que pararam de fabricar "Estou dando só uma olhada"
Olhei muito, vi corações presos corações querendo a liberdade, presos na submissão e na felicidade alheia Vi corações comprando tipos de amor quando ele só precisa de um Clientes insatisfeitos. Compraram na loja errada esqueceram da loja que se chama "eu"
Quero estar na tua vida, caminhar no teu caminho, celebrar tuas vontades, me encontrar com o teu destino e... saciar dos teus desejos escondidos.
Quero, como um sopro de arrepio, Deslizar em tua pele e sussurrar ao teu ouvido sensações de bem-querer... Numa vontade quase louca, me aconchegar no teu ninho mergulhar em tua boca e... docemente, num beijo profundo, sem hora pra terminar, em questão de segundos, fazer mistérios... te alucinar! Invadindo o teu mundo me perderia em você, num pleno transbordar de tudo o que lhe dá prazer. Será que duvida? Serei tua fruta preferida com sabor de amanhecer.
E como seria bom acordar e sentir que não estou sozinha. Não importa, se um paraíso tivesse que inventar. Voando juntos, o tempo, não nos pararia, nem nos faria voltar.... E mesmo passando rápido, ao nosso lado se curvaria ao silêncio delirante do despertar numa aventura desmedida para a liberdade encontrar... Não quero pensar que é impossível! Brindaríamos à certeza de que tudo valeu a pena... O sonho, a aventura, o encanto... o momento, a paixão... o caminho... a conquista, ou até mesmo a ilusão! Por que não?
Depois de atravessarmos juntos a estação do amor, por muito tempo sonhado, apetecido... regado... somente nossos olhares acesos a brilhar, brindando ao encontro da brisa com o mar... reflexo do sentimento mais lindo que há!
Passamos por tempestades e aterrissamos em fronteiras distantes. Com o coração acelerado, gritamos o silêncio engasgado comemorando o fim de um tributo arrebatador... intrigante... Meu sorriso, amor, lhe entrego nesse instante porque o meu coração, guiado por seu olhar, um dia me abandonou para ao seu lado ficar. Ele foi seu desde o dia em que te conheceu... e agora... também eu! Quero estar na tua vida, como a sombra e o calor como o Sol e a Lua como o vinho e o amor! Sou feitiço... sou ternura, mas no íntimo do teu ser, já sabe... Sou tua!
AROMA DE ORVALHO Imagem retirada da Internet
O MENINO QUE ESCREVIA VERSOS (conto)
— Ele escreve versos! Apontou o filho, como se entregasse criminoso na esquadra. O médico levantou os olhos, por cima das lentes, com o esforço de alpinista em topo de
montanha. — Há antecedentes na família? — Desculpe doutor? O médico destrocou-se em tintins. Dona Serafina respondeu que não. O pai da criança, mecânico de nascença e preguiçoso por destino, nunca espreitara uma página. Lia
motores, interpretava chaparias. Tratava bem, nunca lhe batera, mas a doçura mais requintada que conseguira tinha sido em noite de núpcias: — Serafina, você hoje cheira a óleo Castrol. Ela hoje até se comove com a comparação: perfume de igual qualidade qual outra mulher ousa sequer sonhar? Pobres que fossem esses dias, para ela, tinham sido
lua-de-mel. Para ele, não fora senão período de rodagem. O filho fora confeccionado nesses namoros de unha suja, restos de combustível manchando o lençol. E oleosas confissões de
amor. Tudo corria sem mais, a oficina mal dava para o pão e para a escola do miúdo. Mas eis que começaram a aparecer, pelos recantos da casa, papéis rabiscados com
versos. O filho confessou, sem pestanejo, a autoria do feito. — São meus versos, sim. O pai logo sentenciara: havia que tirar o miúdo da escola. Aquilo era coisa de estudos a mais, perigosos contágios, más companhias. Pois o rapaz, em vez de se
lançar no esfrega-refrega com as meninas, se acabrunhava nas penumbras e, pior ainda, escrevia versos. O que se passava: mariquice intelectual? Ou carburador entupido, avarias dessas que a vida
do homem se queda em ponto morto? Dona Serafina defendeu o filho e os estudos. O pai, conformado, exigiu: então, ele que fosse examinado. — O médico que faça revisão geral, parte mecânica, parte eléctrica. Queria tudo. Que se afinasse o sangue, calibrasse os pulmões e, sobretudo, lhe espreitassem o nível do óleo na figadeira. Houvesse que pagar por sobressalentes, não
importava. O que urgia era pôr cobro àquela vergonha familiar. Olhos baixos, o médico escutou tudo, sem deixar de escrevinhar num papel. Aviava já a receita para poupança de tempo. Com enfado, o clínico se dirigiu ao
menino: — Dói-te alguma coisa? —Dói-me a vida, doutor. O doutor suspendeu a escrita. A resposta, sem dúvida, o surpreendera. Já Dona Serafina aproveitava o momento: Está a ver, doutor? Está ver? O médico voltou a erguer
os olhos e a enfrentar o miúdo: — E o que fazes quando te assaltam essas dores? — O que melhor sei fazer, excelência. — E o que é? — É sonhar. Serafina voltou à carga e desferiu uma chapada na nuca do filho. Não lembrava o que o pai lhe dissera sobre os sonhos? Que fosse sonhar longe! Mas o filho reagiu:
longe, porquê? Perto, o sonho aleijaria alguém? O pai teria, sim, receio de sonho. E riu-se, acarinhando o braço da mãe. O médico estranhou o miúdo. Custava a crer, visto a idade. Mas o moço, voz tímida, foi-se anunciando. Que ele, modéstia apartada, inventara sonhos desses que já nem
há, só no antigamente, coisa de bradar à terra. Exemplificaria, para melhor crença. Mas nem chegou a começar. O doutor o interrompeu: — Não tenho tempo, moço, isto aqui não é nenhuma clinica psiquiátrica. A mãe, em desespero, pediu clemência. O doutor que desse ao menos uma vista de olhos pelo caderninho dos versos. A ver se ali catava o motivo de tão grave
distúrbio. Contrafeito, o médico aceitou e guardou o manuscrito na gaveta. A mãe que viesse na próxima semana. E trouxesse o paciente. Na semana seguinte, foram os últimos a ser atendi dos. O médico, sisudo, taciturneou: o miúdo não teria, por acaso, mais versos? O menino não entendeu. — Não continuas a escrever? — Isto que faço não é escrever, doutor. Estou, sim, a viver. Tenho este pedaço de vida — disse, apontando um novo caderninho — quase a meio. O médico chamou a mãe, à parte. Que aquilo era mais grave do que se poderia pensar. O menino carecia de internamento urgente. — Não temos dinheiro — fungou a mãe entre soluços. — Não importa — respondeu o doutor. Que ele mesmo assumiria as despesas. E que seria ali mesmo, na sua clínica, que o menino seria sujeito a devido tratamento. E assim se procedeu. Hoje quem visita o consultório raramente encontra o médico. Manhãs e tardes ele se senta num recanto do quarto onde está internado o menino. Quem passa pode escutar
a voz pausada do filho do mecânico que vai lendo, verso a verso, o seu próprio coração. E o médico, abreviando silêncios: — Não pare, meu filho. Continue lendo...
Texto de Mia Couto
QUEM É ELA...
Ela é daquelas que sofre em silêncio e que sorri com alarde. Daquelas meninas teimosas que batem o pé e bradam: 'Ninguém muda as minhas certezas!' O problema é que suas únicas certezas são: A morte e o fato de que nunca vai se conhecer completamente. É daquelas que quase não chora... Mas quando chora, chora com a alma inteira! E que mesmo chorando com toda a alma, é capaz de rir se alguém contar uma piada de pontinhos. É daquelas que teima em procurar flores no asfalto. Mas pisa nas flores do jardim, de tão distraída. Ela é absolutamente fascinante. Mas é daquelas meninas que parece só mais uma quando se olha de muito longe. (E talvez quando se olha de muito perto...) É daquelas que tropeça mais do que anda. Mas que, quando cai, se levanta sem perder a pose, e continua caminhando de nariz empinado, repetindo mentalmente para si mesma: "Como você quer estar sempre de pé, se até algumas estrelas são cadentes?"
_ Alessandra Silveira (Confissões, 05 de janeiro de 2016)
Quem Me Leva Os Meus Fantasmas Maria Bethânia Aquele era o tempo Em que as mãos se fechavam E nas noites brilhantes as palavras voavam E eu via que o céu me nascia dos dedos E a ursa maior eram ferros acesos Marinheiros perdidos em portos distantes Em bares escondidos Em sonhos gigantes E a cidade vazia Da cor do asfalto E alguém me pedia que cantasse mais alto
Quem me leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada? Quem me leva os meus fantasmas? Quem me leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? E me diz onde e´ a estrada
Aquele era o tempo Em que as sombras se abriam Em que homens negavam O que outros erguiam E eu bebia da vida em goles pequenos Tropeçava no riso, abraçava venenos De costas voltadas não se vê o futuro Nem o rumo da bala Nem a falha no muro E alguém me gritava Com voz de profeta Que o caminho se faz Entre o alvo e a seta
Quem leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada? Quem leva os meus fantasmas? Quem leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? E me diz onde e a estrada
De que serve ter o mapa Se o fim está traçado De que serve a terra à vista Se o barco está parado De que serve ter a chave Se a porta está aberta De que servem as palavras Se a casa está deserta?
Quem me leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? Quem me diz onde é a estrada? Quem me leva os meus fantasmas? Quem me leva os meus fantasmas? Quem me salva desta espada? E me diz onde e a estrada
Composição: Pedro Abrunhosa ·
A ESSÊNCIA QUE HÁ ENTRE NÓS... Hoje, esquecida num canto qualquer, aguardo por tua lembrança. Caída... desprovida dos cordéis, recordo as rimas e o brilho da esperança de infinitos instantes... Ainda hoje... faço companhia a tantas outras, que como eu, foram largamente amontoadas numa sucessão de suspiros exaltados... Sem reação, apercebo minha aparência, que já não é mais a mesma... São tantas as razões! Nesse formato de mim, entregue aos amassos repentinos, acolhi num abraço
cada palavras por ti abandonada... descartada. Delas, não ouvi murmúrio algum, nem gritos, mas foi tenso o lamento do silêncio... até mesmo do teu. Acerca de um tempo, estive aos arredores de um espaço que foi ficando pequeno... outrora cercada por fragmentos de sonhos... Antes, porém... para o além daquilo que poderia ver, me encontraram aflorada, convertida na minha real natureza, gerada pelo âmago da criação... Fui encanto naquele
canto e não nesse que hoje me encontro. Docemente respirei no campo de outono me fazendo grande na aspiração junto ao carvalho que me envolvia, saboreando o aroma das flores silvestres... das folhas que o
vento mexia... do néctar que transbordava em viva euforia nas circunstâncias entregues às alegrias do dia... O tempo passou e deixei minhas origens... deixei de ser carvalho. Um novo rumo tomei para me encontrar com o teu agrado e na segurança de tuas mãos me tornei
mensageira de sentidos... enaltecendo sonhos, sons apetecidos, que hoje, porém, comigo estão contidos... ruídos perdidos deixados ao relento de um canto que, de tempo em tempo, o vento
balança! Me fiz teu desejo escrito... Li teu pensamento secreto traduzido em aquecidas palavras que me seduziram... Palavras que hoje abraço junto ao meu
horizonte... num canto que talvez não te desperte e nem encante. Numa vaga lembrança, olhou-me com carinho e saudade... tendo sido, naquele instante, sedutora recordação das serenas noites de outrora. Mas, também, fui compassiva com a frieza do teu olhar nos lamentos em vão... Fui margem que carregou seu coração em momentos de solidão. Vi a ternura da tua alma invadindo as lacunas de um caminhar sem direção. Fui a tua distração diante da lareira... Me deixei rasgar por tua vogas vontade e vi pedacinhos de mim, queimando amargamente, diante de numa fogueira. Fui a tua companhia estando diante do teu olhar e oferecendo o meu espaço para teus embaraçados gorjear de inspiração, sentindo o toque dos teus dedos no deslizar
da tua mão. Estive ao teu lado e ainda poderia estar se quisesse me desprender desse canto, num agora qualquer... Um pedaço de mim ainda existe e se faz presente... Tão somente, como uma tira de papel, ofereço-me aos teus encantos como um página em branco... Com alegria, acolheria o teu traçado sutil, deixando-me envolver por
tua caligrafia e, assim, revelaria teus desejos de bem querer. Depois, mesmo que ocultada ou esquecida num canto qualquer, pelo simples fato de ser uma... folha de papel, me desmancharia com o tempo unida aos doces desejos por
ti escritos num relance de inspiração, solidão ou risos... De fato, seria enaltecida pelo frio do inverno ou pelo calor do verão que, na tua doce recordação, não me encontraria ferida... afinal,
folhas são apenas ... folhas e, um dia, se vão. Contudo, o perfume e a essência dos dizeres ausentes que te despertaram, esses sim permanecerão para o caminhar contínuo junto a aurora de uma
outra estação.
AROMA DE ORVALHO Imagem retirada da Internet
UNIÃO
Mais que uma palavra,
Um ideal. Um sonho!
União não apenas de mãos,
de confraternização,
mas, de esperanças.
De consciências, de responsabilidades.
Por que a irmandade se tornou em utopia?
Por que o sofrimento alheio doí menos?
Se somos todos feitos da mesma carne,
do mesmo sangue!
Se sonhamos os mesmos sonhos,
perseguimos os mesmos ideais,
por que tanta rivalidade,
tanta brutalidade com teu semelhante?
Olhe adiante!
Veja a destruição pela falta de união.
Tenho a esperança de que um dia
Você se juntará a nós
E o mundo será como um só.
(As três últimas linhas pertencem a canção Imagine, John Lennon)
...Anjo Negro...
Desvario
Envolvido em seus braços
Sedento de amor em desvario
Em seu corpo quero me perder
De sua pele,o perfume sentir
Beijar-te o corpo inteiro
Fazer-te delirar de prazer
Sentir o seu palpitar
Fazer seu coração acelerar
Em seus lábios banhar
Meus anseios, em seu suor
Me envolver, sussurrar palavras
De amor aos seus ouvidos
Sentir seu corpo delirar
De prazer, e em meus
Braços desfalecer de amor
Sobre os revirados lençóis
Por um prazer sem limites
Que nos faz perder a razão
E nos leva ao pleno êxtase
De uma indescritível paixão
O Poeta do Sertão
13-10-2014
E AGORA?... Você pode viajar, rodar o mundo... Encontrar uma nova estação um tempo bom... Mas, outro amor profundo e tão sensível como o nosso? É difícil até de imaginar! Onde quer que você vá estarei lá... acesa e vibrante em teus pensamentos, aquecendo os teus sentimentos com olhar brilhante e sorridente.
O destino deve estar nos olhando como quem diz... "Fiz tudo para um ao outro encontrarem e como seres únicos se tornarem... Os fiz sonhadores perfeitos para um amor mais que perfeito; Como a Lua e o Sol O céu e o mar A noite e o dia O sonho e o despertar O ontem e o depois... Tão completos para que nada pudesse faltar"
Como folha seca ao vento, o destino nos colocou nas mãos do tempo, sem caminho certo fomos seguindo, às vezes sozinhos, até um ao outro encontrar... e foi assim, talvez já sem esperanças, que olhou no meu olhar e por esse amor não resisti... me deixei levar ...
E agora? Meu coração está de ponta cabeça E não entende como te perdeu... A saudade arranha, fere e traz de volta as lembranças de tudo o que a gente viveu. É possível, mas não acredito que a tua paixão morreu porque em mim, a velha chama continua acesa... intensa e te espera, num desejo louco de começar tudo de novo... Um amor de primavera!
AROMA DE ORVALHO Imagem retirada da Internet
Quase Sem Querer Legião Urbana Tenho andado distraído Impaciente e indeciso E ainda estou confuso Só que agora é diferente Estou tão tranquilo e tão contente
Quantas chances desperdicei Quando o que eu mais queria Era provar pra todo o mundo Que eu não precisava Provar nada pra ninguém
Me fiz em mil pedaços Pra você juntar E queria sempre achar Explicação pro que eu sentia Como um anjo caído Fiz questão de esquecer Que mentir pra si mesmo É sempre a pior mentira Mas não sou mais Tão criança a ponto de saber tudo
Já não me preocupo se eu não sei por que Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê E eu sei que você sabe, quase sem querer Que eu vejo o mesmo que você
Tão correto e tão bonito O infinito é realmente Um dos deuses mais lindos Sei que às vezes uso Palavras repetidas Mas quais são as palavras Que nunca são ditas?
Me disseram que você Estava chorando E foi então que eu percebi Como lhe quero tanto
Já não me preocupo se eu não sei por que Às vezes o que eu vejo quase ninguém vê E eu sei que você sabe quase sem querer Que eu quero mesmo que você.
OS PÉS SÃO O ESPELHO DA ALMA (conto)
Autor: José Danilo Rangel
Tenho um amigo que largou da noiva porque ela tinha pés hediondos. Não sei o que isso quer dizer, não sei como um pé pode ser hediondo, mas foi o que ele disse. E mais: os pés são o espelho da
alma, uma mulher que não cuida dos pés não cuida de si mesma. E ainda um pouco mais, a beleza da mulher está nos pés.
Depois que ele me falou sobre os pés da noiva, comecei a reparar e para mim, eram OK. Não sou especialista, mas acho que se aqueles pés não poderiam servir de modelos para propagandas de
sandálias, com certeza, jamais constariam em manuais médicos de patologias dos pés.
Ele disse que tentou se acostumar com aqueles pés, mas não conseguiu. Olhava, fazia força, mas nada. Então, começou a investir em indiretas para ver se de alguma forma fazia com que ela prestasse
mais atenção aos pés.
Primeiro, vivia dizendo como gostava de mulher com pés impecáveis, que uma mulher com belos pés era tudo o que queria na vida. Ela ou fingia que não ouvia, ou não ouvia mesmo. Então ele mudou de
estratégia, passou a elogiar pés de outras, o que era um pouco arriscado.
Quando via um belo par de pés na TV, dizia logo, olha, que pé! QUE PÉ! A noiva continuava sem se importar. Ele seguia firme, cada vez mais ousado. Teve uma vez que ele disse eu lamberia um pé
assim! E ela de imediato perguntou que putaria é essa? E é claro que teve confusão.
Não era pelo elogio aos pés. A noiva não se importava se ele achava os pés de fulana ou de beltrana da TV bonitos, muito melhor, aliás, que ficar elogiando peito e bunda, ela pensava. Mas tudo
tem limite, o que era aquilo de lamber? Que descaramento era aquele? Pelo que ela sabia, um noivo não pode andar dizendo por aí que vai lamber seja lá que parte for de outra que não a sua própria
noiva.
Depois de um tempo, aumentando o desconforto dele em conviver com aqueles pés, ele passou para uma abordagem mais direta, perguntava amor, por que tu não cuida direito dos teus pés? Ela respondia
com estão sujos, por acaso? Não estavam, o que para ela era suficiente. Para ele, não era.
Como nem uma nem outra abordagem surtiram efeito, chegou o dia em que ele não suportava mais os pés da noiva, em especial, a forma como aqueles trambolhos se esfregavam em suas canelas à noite.
Não suportando mais os pés, rompeu com a dona deles.
Foi um problemão...
Para eles, para as famílias e amigos. Pra quem não sabe, uma relação de muito tempo não se mantém sozinha, apenas pela vontade do casal, há um conjunto de vontades externas envolvidas nessa
manutenção. E quando uma relação de muito tempo termina, caso termine, não termina sozinha também, leva junto uma série de outras relações colaterais, surgidas e mantidas em torno dela.
Assim, que o fim de um noivado não significa apenas o fim de um noivado, mas a quebra de todos os acordos não escritos firmados entre as famílias dos noivos, dos seus amigos e ainda de outros
envolvidos, de alguma forma conhecidos do casal.
Mas ele não estava nem aí para os transtornos causados a terceiros, não queria mais casar com a dona daqueles pés e ponto. Claro que tentaram argumentar, mas qual é o argumento que poderia ter
algum efeito se ele sempre mentia sobre o motivo? Um remédio só cura quem o toma e uma bala só mata a quem acerta.
No fim, tudo acabou dando certo. Ela achou alguém que não se importava com os seus pés e ele encontrou os pés perfeitos, embora a dona deles fosse uma megera insuportável. No amor é assim, cada
um, pelo que gosta de uma pessoa, suporta o resto dela.
Fiz do oceano profundo a minha dor Fiz da rua mais amada o meu canto Fiz do meu sangue o meu lamento Fiz dos dedos calejados um poema Fiz da lua testemunha do meu amor Fiz das palavras mal afamadas o trono Fiz da fiel carne a sua própria liberdade Fiz da alma um nevoeiro do seco deserto Fiz da fé uma crença, um modo de vida Fiz dos meus crucifixos o meu pensamento Fiz dos carris o caminho de mim mesma Fiz do esplendor do sol um abraço a Deus Fiz da ferida da lua o adeus a própria dor. Fiz do espetáculo da vida o meu querer Fiz da essência um obstáculo grande no agir Fiz do desânimo o tempo que se tornou pequeno
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto
(António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto')
Inconfesso Desejo
"Queria ter coragem
Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo."
(Carlos Drummond de Andrade)
Ah, um Soneto...
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Não sei quantas almas tenho
Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(Fernando Pessoa)
Sou o livro da vida. Na terra virgem de todos os sonhos. Sou a dor, que o próprio tempo, vem esmagando. Nas rugas de um rosto cansando...
Sinto a saudade do passado. Das lindas lembranças do tempo de criança. Do cheiro da relva em um banco na sombra. Dos pássaros livre à cantar. Em minha única forma, ainda de sonhar...
FERNANDO IMPÉRIO.
Vou conseguir voar nos seus sonhos. No pensamento virgem de um lindo encontro. No encanto puro da própria fantasia. Na realidade romântica de todos os versos. Nas letras da real química poética. Vou conseguir voar com você...
FERNANDO IMPÉRIO. Imagem Christine Ellger.
Eu tenho medo de assombração. Pavor do inferno cheio de capeta. De uma bíblia sagrada. Sem a sustentabilidade humana. Das lágrima da própria morte...
Eu tenho medo da minha ignorância Ate mesmo na falta de amor com o próximo. Eu tenho medo é não faço nada. Para mudar o meu futuro...
FERNANDO IMPÉRIO. Imagem Christine Ellger.
Porque os livros, são os sonhos, de nossas almas. Na busca infinita de toda a felicidade. No tempo mágico de nossas lembranças. No infinito entender do mundo celestial. Um livro vale mais que mil TV.
Simplesmente. Porque são os sonhos de nossa realidade.
FERNANDO IMPÉRIO. Imagem Christine Ellger.
Será que sou apenas um sonho. Na imaginação de uma química poética. No livro que nunca vou ler. Simplesmente porque não sei escrever. Sou um grande analfabeto. Na vida sem cultura...